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Corrida de 80 metros também envolveu crianças indígenas na competição realizada na Zona Rural de Manaus. Fotos: Antônio Lima/Semdej |
Um
ritual na língua tukano para chamar o sol e abençoar a terra deu por aberta a 3ª
edição dos Jogos Interculturais Indígenas, sábado (dia 25), na Comunidade do
Livramento, localizada a 25 minutos de Manaus. A celebração, promovida pela
Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Desporto, Lazer e
Juventude (Semdej), reuniu uma média de 500 índios dos povos Baré, Tariano, Tukano,
Miranha e Karapanã, que promoveram sua cultura e seus costumes por meio do
esporte, da dança e da música.
“Nós
pedimos aos nossos ancestrais energia e muito calor para tornar esta
confraternização um momento proveitoso para todos. Hoje o que mais importa não
são os resultados dos Jogos, mas sim a oportunidade de mostrar e valorizar
nosso povo e nossa história. Nós precisamos criar possibilidades e apresentar
ao mundo o que nossos antepassados deixaram de valioso”, disse o cacique
Asterio Baré, que comanda há quatro anos a comunidade do Livramento, do Rio
Tarumã e do Tarumã Açu.
Mergulho,
canoagem, peconha, zarabatana, arco e flecha, arremesso de lança e cabo de
guerra, corrida de 80 metros, corrida de saco, salto em distância, voleibol,
futebol e natação foram as modalidades que movimentaram os jogos.
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Elas se empenharam ao máximo pela vitória na corrida de saco |
Para o
coordenador do evento e gerente da Semdej, Eldo Gomes Cabral, a celebração
conseguiu cumprir seu papel social.
“O
Livramento é uma comunidade mista que precisa ser valorizada e nada melhor que
o esporte para trazer isto a eles. Essa é uma reserva indígena que pertence a
Semmas, por isso eles não podem vender nada aqui. Eles plantam e caçam para
comer. Logo com os jogos aqui é possível eles mobilizarem sua economia e
principalmente criar possibilidade para várias tribos. Este é um momento que
valoriza estes povos e sua existência”, comentou o professor, ao confirmar a
participação de 15 comunidades indígenas, totalizando uma média de 500 pessoas
por dia nos jogos.
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Apresentação cultural deu brilhantismo extra ao evento |
Acostumados
a correr no meio da mata, os indígenas tiveram de canalizar sua força e
velocidade na corrida de 80 metros. Na
categoria masculina, Kleison Coelho marcou 8seg49 e tornou-se o vencedor da
prova. O segundo lugar foi ocupado por Elvys Thomas (8seg49) e o terceiro por
Lindrei Santos (8min97).
“Sou
rápido como uma flecha”, disse Kleison, que é morador da comunidade Praia da
Lua e aos 11 anos pilota todos os dias, por dez minutos, uma rabeta para chegar
ao Livramento e estudar. O garoto cursa o quinto ano da Escola Municipal São
José I e apesar de ter se destacado como velocista, “quando crescer” pretende
ser jogador de futebol.
“Sei
que existe o Princesa do Solimões (time amazonense de Manacapuru) e quero muito
poder atuar nele. Gosto de futebol e só vou para a Cidade se for para ser
jogador. Gosto de viver assim, no meio da mata. Aqui eu brinco e tenho meus
pais por perto”, disse Kleison.
Uma
“piscina” sem borda
Água clara, com cloro, num tanque d´água. Nada disso faz parte da realidade dos Jogos
Interculturais Indígenas. Ao contrário. A “piscina” neste evento tem água
escura, bichos e uma imensidão sem fim. Para enfrentá-la é preciso esperteza e
conhecimento, e isso a pequena Jamiles Silva tem de sobra.
“Sempre
me banho nesse rio. Já conheço e não tenho medo”, conta a menina de 11 anos,
que não cansou de dar braçadas até o meio do rio Tarumã. Hoje, a pequena “usou”
o rio para competir, mas no dia a dia ela se refresca ali antes de ir à Escola
Municipal São José 1.
“Tem
pessoas que quando visitam a gente, ficam com medo de entrar na água. Mas ela
não faz mal a ninguém, nem os animais. Eu aprendi a nadar aqui e vou até o
fundo, mas é preciso ser rápido”, destacou a pequena.
Livramento
1 leva a melhor no campo
O
esporte mais popular do mundo não poderia estar fora dos Jogos Interculturais.
Com as equipes da casa se enfrentando - Livramento 1 e
Livramento 2 - o público ficou bastante dividido na hora de torcer. E as
equipes não decepcionaram, protagonizando uma partida repleta de suspense. O jogo que terminou empatado (1 a 1), foi
para os pênaltis e o Livramento 1 foi que se deu melhor ao balançar cinco vezes
a rede, enquanto a adversária marcou quatro. Os gols que garantiram a vitória
vieram de Alexandre, Elvys, Paulo, Vitor e Elton.
Mas
o futebol não faz só a cabeça dos indígenas pequenos, a esposa do cacique,
Yakusana, da tribo Mayoruna, treina uma média de 30 meninos que compõem a
Livramento e a Livramento 2. Segundo ela, em três anos, as duas equipes nunca
perderam para os times das outras comunidades. Por isso, são temidas no campo.
“Tenho
uma responsabilidade muito grande por ser a mulher cacique e desempenho um
papel importante de técnica. Me sinto uma criança quando estou com esses
meninos e é a melhor sensação do mundo. Eles tem potencial e não duvido que
alguns daqui poderiam ocupar grandes times. Eles revelam nossa dignidade força
e luta. São nossos guerreiros em campo e este é o melhor lazer deles”, afirma
Yakusana, que é casada há 17 anos com Asterio Baré e é mãe de sete filhos.
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Servidores da Prefeitura de Manaus e indígenas que participaram dos jogos
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Fonte: Secretaria Municipal de Desporto, Lazer e
Juventude (Semdej)