Gércia Hermínio, do povo Baré, no instante do juramento. Fotos: Divulgação/Seind |
Mais uma indígena
beneficiada pelo sistema de cotas consegue concluir um curso superior pela
Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Trata-se de Gércia Hermínio de
Albuquerque, 31, do povo Baré e natural de São Gabriel da Cachoeira (a 858
quilômetros de Manaus), que colou grau em Medicina nesta segunda-feira (13), na
Faculdade de Ciências da Saúde em Manaus.
Gércia já possuía o
curso técnico em Enfermagem, mas sentiu a necessidade de fazer Medicina, por
conta da rotatividade de médicos e enfermeiros no município.
A colação especial
reuniu nove formandos, entre a única indígena da turma e não indígenas de
Manaus, Itacoatiara e Manacapuru, que deverão voltar para suas cidades para
exercer a função de clínico geral.
Objetivo é retornar ao município onde nasceu para compartilhar conhecimento |
A política de Cotas da
UEA segue as determinações dispostas na Lei 2.894/2004 e a Secretaria de Estado
para os Povos Indígenas (Seind) tem apoiado e orientado os indígenas a
participar do processo, inclusive com uma ampla divulgação junto às
comunidades. “Com isso, os povos indígenas mostram a capacidade que têm de
enfrentar esse tipo de curso, considerado bem difícil, e também o compromisso
de retornar à sua comunidade e ao seu povo para compartilhar o que aprenderam”,
destacou o secretário da Seind, Bonifácio José Baniwa.
Entre idas e vindas de
Manaus a São Gabriel, Gércia passou sete anos para concluir o curso. Uma das
maiores dificuldades foi a perda da mãe. Maria Auxiliadora Velasque morreu em
2011, aos 64 anos. “Durante o estudo, minha mãe ficou doente e eu contei com a
ajuda dos colegas de turma. Eles me apoiaram nos momentos mais difíceis”, disse
a indígena, que dedicou todo o esforço, com o desfecho da formatura, à memória
da mãe.
O pai de Gércia,
Alfredo Coimbra, de 78 anos, veio da comunidade de Cucuí, no alto Rio Negro,
exclusivamente para ser o paraninfo dela.
Com o pai, Alfredo Coimbra, e amigos de São Gabriel e Manaus |
A indígena viaja nos
próximos dias para São Gabriel e retorna em dezembro para fazer a prova de
Residência Cirúrgica.
Recompensa por tanto esforço é apenas o início de uma longa caminhada |
Outros
médicos
A UEA ainda não possui
o quantitativo exato de indígenas formados em Medicina no Amazonas, mas o
número de pessoas interessadas em fazer o curso tem aumentado nos últimos anos.
O interesse é tanto
pelo curso que, alguns têm procurado alçar vôos bem mais difíceis em outros
estados. É o caso de Adana Kambeba, que nasceu na zona rural de Manaus e é a
primeira indígena do Amazonas a ingressar no curso de Medicina pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela entrou em 2012 e, a exemplo de
Gércia, pretende retornar às origens e contribuir com o conhecimento adquirido,
junto aos povos indígenas.
Números
Os números da UEA
apontam que, de 2005 a 2012, o Governo do Amazonas ofertou mais de 500 cursos
pelo sistema de cotas. As vagas ofertadas chegaram a quase 1,5 mil, enquanto
que os inscritos somaram a aproximadamente 7 mil indígenas.
Nem todas as vagas
foram preenchidas, mesmo assim, os números são considerados positivos.
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