Marcos Antônio Mura e João Marcos Mura enfrentaram maratona para chegar a Manaus, mas dizem que estão preparados para correr e ganhar. Foto: Isaac Júnior (Ascom/Seind) |
MANAUS – A
segunda edição da Corridinha Henrique Archer Pinto
terá uma atração especial. A corrida infantil marcada para este sábado (20) vai
contar com a participação de duas crianças indígenas: Marcos Antônio Mura, de
12 anos, e João Marcos Mura, de 10 anos. Eles encararam uma dura viagem de
Humaitá para vencer barreiras e realizar o sonho de disputar a principal
corrida pedestre da Região Norte.
Marcos Antônio e João Marcos
fazem parte de uma família de 10 irmãos que vive no município de Humaitá
(a 600 quilômetros de Manaus). Eles fazem parte da etnia Mura,
que ocupa vastas áreas no complexo hídrico dos rios Amazonas, Madeira e Purus.
Acompanhados pela mãe, Francisca Marques Mura, os meninos encararam uma
verdadeira maratona na viagem até a capital amazonense.
Longa viagem
“Foi uma viagem sofrida. Uma
aventura que só eu mesmo para encarar”. É desta forma que Francisca inicia a
conversa com a reportagem do Portal Amazônia. Sair de Humaitá
para Manaus não foi uma tarefa fácil. A família percorreu a BR-319, que liga as
cidades de Manaus e Porto Velho, de carona. A viagem durou cerca de dois dias.
Francisca e os dois filhos
viajaram em uma caminhonete ‘pau de arara’ com outras três pessoas. “Dormimos
amontoados igual porcos”, contextualiza a mãe. Mas o aperto não foi a única
dificuldade. “A estrada é horrível, cheia de buracos. Você olha pro lado e vê
mato, olha pro outro e também só tem mato. Nós sofremos demais, passamos muito
mal. Viemos na cara e na coragem. Mas o importante é que nós chegamos. Eles
queriam vir de qualquer jeito e por eles eu faço qualquer coisa”, afirmou.
Por conta da capacidade pequena
da caminhonete, um outro ‘corredor’ da família teve de ficar em Humaitá.
Antônio Marcos Mura, de 11 anos, não conseguiu viajar para a disputa da Archer
Pinto. Desde cedo os três irmãos mostram talento para a corrida. Em Humaitá,
eles disputaram a Corrida Duque de Caxias no último dia 31 de agosto e ocuparam
as três primeiras colocações da prova. O título ficou com o mais velho, Marcos
Antônio.
Dois filhos de Francisca
Francisca orgulha-se do talento
dos filhos e acredita em um bom desempenho na Corridinha Henrique Archer Pinto,
ainda que a prova infantil não tenha caráter competitivo. “Eles estão muito
confiantes e eu acredito neles”, disse.
Francisca e os filhos nunca
haviam pisado em Manaus. A mãe ficou impressionada com a beleza da cidade.
“É
muito bonita. A temperatura aqui é mais quente, mas não chega a ser uma
dificuldade. Pena que eu não conheço e não sei andar na cidade, mas pelo pouco
que andei é muito linda”. Os três indígenas estão hospedados em Manaus na casa
da mesma família que os transportaram para a capital.
Apesar da felicidade em disputar
a Archer Pinto (uma corrida “muito bem falada”, como define Francisca), a vida
da família indígena em Humaitá não é nada fácil. Francisca alega sofrer discriminação
no município por conta do Caso Tenharim.
“A gente não é da mesma etnia,
mas pelo fato de ser indígena a gente tá pagando pelos outros. Eu tô sofrendo e
os meus filhos também. Estamos sendo discriminados, a gente não é bem tratado.
Agora podemos andar na rua, mas porque a Força Nacional tá lá, a Polícia
Federal também. Nós temos medo de ser atacados. A população atacou tudo.
Tacaram fogo na Funai, nas viaturas, nos ônibus que levavam a gente para a
cidade. Estamos pagando por uma coisa que a gente não fez”.
Apesar do drama, Francisca
valoriza o fato dos filhos representarem os indígenas na competição em Manaus.
“Eles vem representando a nossa cidade, a nossa comunidade e o nosso povo.
Ainda sofremos muito preconceito, mas nada que deixe o nosso astral pra baixo.
Quando a gente pode e quer realizar alguma coisa, não existem dificuldades. É o
sonho deles, então eu enfrentei tudo isso pra eles não terem o que reclamar de
mim. Todo mundo na comunidade está torcendo por eles aqui”.
Ajuda
Qualquer pessoa que queira
ajudar dona Francisca e os filhos no retorno para o retorno a Humaitá, pode entrar
em contato comela pelo número (97) 8105-4262.
Fonte:
Portal Amazônia
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