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Gerente de Educação Escolar Indígena da Seduc, a professora Alva-Rosa participou das discussões, que também tiveram a participação do secretário da Seid, Bonifácio José Baniwa (à direita). Foto: Divulgação/Seduc |
Dezesseis municípios no Estado do Amazonas recebem
hoje o apoio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) com a oferta de
escolas a alunos residentes em aldeias e comunidades indígenas. Ao todo, 83
localidades são cobertas pelas ações da Seduc na área de educação escolar
indígena.
Há unidades de ensino da Seduc preparadas para
receber alunos indígenas em Amaturá, Atalaia do Norte, Barreirinha, Benjamin
Constant, Borba, Humaitá, Jutaí, Manicoré, Maués, Nhamundá, Parintins, São
Paulo de Oliveira, Santa Isabel do Rio Negro, Santo Antônio do Içá, São Gabriel
da Cachoeira, Tabatinga e Tonantins.
Do dia 13 ao dia 15 deste mês, o Conselho Estadual
de Educação Escolar Indígena (CEEI-AM) realizou, em Manaus, sua primeira
reunião ordinária do ano. Foram pautas do encontro a avaliação das políticas
educacionais para as escolas indígenas do Amazonas, a aplicação de projetos
políticos pedagógicos das instituições indígenas e a formação de professores.
Superando isolamento geográfico – Criado
na comunidade rural Juivitera, localizada no rio Içana, a 700 quilômetros
aproximadamente da sede de São Gabriel da Cachoeira, o professor de Matemática
Trinho Paiva, da etnia Baniwa, 30 anos, conta que o isolamento geográfico do
lugar onde morava foi um obstáculo à formação escolar dele.
“Na comunidade, a escola só oferecia os primeiros
anos do ensino fundamental. Com 10 anos me alfabetizei, mas fui obrigado a
parar porque não tinha condições de ir para a cidade continuar os estudos”,
lembra Trinho. São Gabriel da Cachoeira tem 37,8 mil habitantes, dos quais 95%
são indígenas. São 23 povos indígenas divididos em aproximadamente 700
comunidades.
Formação de professores indígenas – Foi
por meio de um projeto de formação de professores indígenas realizado pela
Seduc, o Pirayawara, que Trinho retomou os estudos, e se habilitou a dá aulas
para as crianças da comunidade onde morava. De lá pra cá, o professor se
graduou em Normal Superior e Matemática. Conhecido no município, o educador se
elegeu vereador em 2012.
Membro do Conselho de Professores Indígenas do Alto
rio Negro, Trinho foi um dos conselheiros que participou dos debates promovidos
pelo CEEI-AM este mês. Para o professor, apesar dos avanços, o Poder Público,
principalmente a nível municipal, ainda não dá a atenção a devida à educação
escolar indigna.
Trinho propôs durante a reunião que o movimento
indígena pressione o Estado brasileiro a criar um sistema nacional de educação
indígena. “Enquanto não se criar um sistema nacional, vamos continuar nesse
debate de que as prefeituras não têm orçamento para aumentar os investimentos
na área”, sustentou o professor.
A gerente de Educação Indígena Escolar da Seduc,
Alva Rosa, ressaltou na reunião do CEEI-AM que a promoção de uma educação
escolar de qualidade deve ser compromisso não só do Estado, como também dos
municípios. Segundo ela, o Governo do Amazonas tem feito a sua parte, mas
muitos gestores municipais ainda estão em dívida com os povos indígenas.
“A gente precisa muito dos municípios para realizar
alguns projetos. E infelizmente têm alguns municípios que não têm sensibilidade
para a educação escolar indígena. Esse desafio não é fácil, por isso temos que
trabalhar em parceria, Estado e municípios”, cobrou Alva Rosa.
Por meio da Gerência de Educação Escolar Indígena,
a gerente defendeu que a Seduc tem trabalhado para oferecer formação a
professores indígenas. Segundo Alva Rosa, o programa Pirayawara, em uma de suas
atividades, que é o Magistério Indígena, está atualmente capacitando 1.613
professores. “Esses professores são profissionais que trabalham na rede
municipal, e a Seduc recebe essa demanda”, ressaltou a gerente.
De acordo com Alva Rosa, a Seduc, apresentou um
projeto junto ao Ministério da Educação (MEC) que garante mais recursos
exclusivos para a formação de professores em territórios indígenas. “Todo
recurso vem através dos territórios. O Estado do Amazonas aderiu a isso para
receber os recursos através do Plano de Ações Articulas. Vamos atender os
municípios de julho a agosto, para apressar a formação de professores sem
depender muito dos recursos dos municípios”, explicou a gerente.
Alva Rosa destacou como outra ação importante da
Seduc no setor a discussão e construção de uma matriz curricular específica
para as escolas estaduais indígenas, do ensino fundamental ao médio. “Os
técnicos da gerência vão viajar para todas as escolas para fazer essa discussão
junto com os conselheiros indígenas, atendendo à lei, que diz que temos que
consultar os povos, e a Seduc respeita isso”, disse a gerente.
Indígenas terão acesso a ensino profissionalizante – De
acordo com Alva Rosa, a Seduc também vai oferecer aos alunos indígenas do
ensino médio, a partir do segundo semestre desse ano, a oportunidade de
concluir os estudos e ao mesmo tempo, obter uma formação técnica.
“Vamos implantar em todas as escolas. De manhã eles
estudam o ensino médio e à tarde vão estudar a parte profissional. Isso será
feito em parceria com o Cetam (Centro de Educação Tecnológica do Amazonas). No
segundo semestre, vamos viajar ao interior para consultar que tipo de formação
profissional eles querem ter”, informou Alva Rosa.
Alva Rosa destacou ainda o trabalho das
universidades Estadual (UEA) e Federal (Ufam) na formação de professores
indígenas para o ensino fundamental e médio. “Como a demanda é muito grande, a
Seduc ficou responsável pela formação de professores que atuam em nível de
magistério. Para atender ensino fundamental e médio, aí vêm as universidades. A
Ufam forma agora em abril, demanda do projeto Piraywara em Autazes, a primeira
turma em Licenciatura Intercultural. Eles vão atender os alunos do ensino
fundamente e médio nas áreas indígenas”, explicou a gerente.
A gerente de Educação Indígena Escolar estima que
há no Amazonas 56 mil alunos indígenas na rede estadual e municipal. No Estado,
há um total de 108 mil indígenas, divididos em 64 povos.
Fonte: Seduc/AM e Agecom