Jorge Luiz comemora colação de grau em Goiás. Fotos: Divulgação |
O tikuna Jorge Luiz Rosindo, 29, é mais um indígena
a concluir um curso superior e a retornar à aldeia de origem para desenvolver
os conhecimentos adquiridos durante a graduação em benefício dos próprios “parentes”.
Após receber aulas particulares de Língua Portuguesa e até morar em um orfanato
nos últimos quatro anos, Jorge colou grau em janeiro passado e é o primeiro amazonense
a graduar-se em Enfermagem pelo Centro Universitário de Anápolis (GO).
O registro no Conselho Regional de Enfermagem
(Coren) foi intermediado esta semana pelo Governo do Amazonas, por meio da
Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), e a viagem para Campo
Alegre, localizada no município de São Paulo de Olivença (a 988 quilômetros de
Manaus), está prevista para o próximo fim de semana.
Jorge Luiz quer seguir o exemplo das tariana Maria
Rosineide Feitoza e Eufélia Lima, que se graduaram em Enfermagem no ano passado
pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e optaram pelo alto rio Negro (onde
vivem os indígenas tariano) para exercer a profissão.
A meta do tikuna é realizar trabalhos relacionados ao
uso de álcool pela juventude indígena de São Paulo de Olivença. “Foi o tema do
meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e é um assunto sério, que tem comprometido
a vida de muita gente dentro da aldeia”, disse Jorge Luiz. “Quero ajudar o meu
povo”, justificou.
Amazonense foi o único indígena a graduar-se pela instituição de Anápolis (GO) |
Prevenção
O envolvimento da Seind com a problemática vai muito
além do apoio prestado pelo órgão ao mais novo enfermeiro indígena. Nos últimos
anos, a secretaria tem trabalhado na elaboração de um programa voltado ao
desenvolvimento de atividades de atenção e prevenção, não somente ao uso de
álcool, mas também a outras drogas. As ações também visam atender a outras
regiões do Estado, por meio da Câmara Técnica “Qualidade de Vida dos Povos
Indígenas”, do Comitê Gestor de Atuação Integrada entre o Governo do Amazonas e
a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Os planos de trabalhos são desenvolvidos em parceria
com instituições como o Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen), Exército e
Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), com ações que vão desde a realização
de oficinas e palestras de conscientização, à criação de agentes multiplicadores.
Início difícil
O caminho de Jorge Luiz até a faculdade começou no Seminário
Teológico Evangélico da Tribo Tikuna, localizado em Benjamin Constant (a 1.116
quilômetros de Manaus). Lá, ele foi incentivado por um pastor a fazer o
vestibular em Anápolis.
Jorge Luiz entre colegas de curso, de quem também recebeu apoio para estudar |
O receio em deixar a aldeia e mudar-se para um local
até então desconhecido por ele deixou o indígena apreensivo, mas a recompensa
veio logo em seguida. Jorge foi aprovado em segundo lugar no certame e ainda
recebeu uma bolsa de estudo integral para fazer a faculdade.
No início, a maior dificuldade foi com o idioma. Em Campo
Alegre prevalece a língua tikuna e, a exemplo dos outros seis irmãos, Jorge
tinha dificuldade de aprender, por conta do pouco contato com a população não
indígena de São Paulo de Olivença. Mas, com o reforço de uma professora de português
goiana, o problema foi amenizado.
Enquanto estudava, Jorge precisou ser abrigado no Instituto
Cristão Evangélico de Goiás e, após um ano e meio de curso, começou a fazer
estágio no laboratório de um hospital em Anápolis.
A cerimônia de formatura ocorreu no dia 24 de
janeiro de 2013. “Agradeço ao pastor Rocindes Corrêa, ao pessoal da
Unievangélica, à Seind e à minha família pelo apoio”, disse, emocionado.
Com o maior incentivador: o pastor Jorge Luiz Rocindes Corrêa |
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