Miquelina Barreto Tukano e Sinésio Isaque, na reunião em Umariaçú. Foto: Divulgação/Seind |
Uma comissão formada por técnicos do Governo do
Amazonas reúne-se esta semana em Manaus, para avaliar as demandas apresentadas
por indígenas do alto Solimões e que deverão servir de subsídio no combate à
violência, ao uso excessivo de bebida alcoólica e de drogas naquela região do
Estado. Entre as principais reivindicações está a construção de uma pequena
delegacia e, consequentemente, a capacitação de 12 agentes colaboradores de
polícia para trabalhar na área.
As reivindicações foram apresentadas por
comunitários das aldeias Umariaçu 1 e Umariaçu 2, durante uma atividade
paralela à Semana do Bebê Indígena, que foi realizada entre os dias 10 e 14
deste mês, na comunidade de Belém do Solimões, no município de Tabatinga (a
1.105 quilômetros de Manaus).
O relatório final com a carta de intenções que será
entregue ao governador Omar Aziz pelo Grupo Amazonaids, também prevê a criação
de programas de controle e a instalação de uma escola de inclusão digital, além
de políticas públicas que permitam minimizar os problemas identificados nas
aldeias. “A esse relatório será anexada
um abaixo assinado com quase trezentas assinaturas”, informou o servidor da
Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), Sinésio Isaque Tikuna,
que foi um dos tradutores indígenas no evento em Tabatinga.
Algumas ações nesse sentido tem sido trabalhadas
pelo Comitê Gestor de Atuação Integrada entre o Governo do Amazonas e a
Fundação Nacional do Índio (Funai), por meio da câmara técnica Qualidade de
Vida dos Povos e Comunidades Indígenas do Amazonas: Reafirmando direitos e na
perspectiva das territorialidades indígenas.
A comissão que esteve em Tabatinga e que faz parte
do Grupo Amazonaids é formada por técnicos da Seind e das secretarias de
Planejamento (Seplan), de Assistência Social (Seas), de Justiça (Sejus) e de
entidades como CE-DST/AIDS/HV.
A Semana do Bebê Indígena foi uma das atividades da
“Roda de Conversa com as Mulheres Indígenas Tikuna e a Violência nas
Comunidades Indígenas”, evento que foi organizado pelo Fundo das Nações Unidas
(Unicef), por meio do Grupo Amazonaids/Unaids, com apoio da Prefeitura de
Tabatinga. O evento teve o objetivo de apresentar a Lei Maria da Penha como forma de defesa dos
direitos das mulheres vítimas de violência, com o uso de cartilha e vídeo traduzido em tikuna, entre outros
temas. “Algumas dessas cartilhas já
estão traduzidas e os indígenas querem estender esta tradução à Lei Maria da
Penha, para que outras comunidade tenham conhecimento do assunto”, destacou Sinésio
Isaque.
Sinésio também representou a Seind no lançamento da Semana do Bebê Indígena |
As discussões envolveram mulheres indígenas,
presidentes de associações, professores, estudantes, líderes tradicionais e
outros, com beneficiamento direto para mais de 400 indígenas.
Aliciamento
Belém do Solimões tem aproximadamente 5 mil indígenas,
mas não dispõe de segurança para repreender e até prender os infratores. Lideranças
e demais moradores estão preocupados com a situação de indígenas com idade
entre dez e 17 anos, que estariam sendo aliciados por traficantes e seriam alvo
fácil do problema da droga, por conta da falta de ocupação, segurança e
programas sociais voltados especialmente aos mais jovens.
Agente colaborador de polícia, indígena explica como funciona o trabalho (difícil) dele na região |
Agressão
De acordo com Miquelina Barreto Tukano, outra integrante
da Seind na comissão e que esteve em Tabatinga, a situação está praticamente fora
de controle. Tem indígena ‘demarcando’ a própria área onde mora, para se manter
absoluto, com ameaças e ações agressivas aos demais. “Em oito bairros de Belém
do Solimões, alguns não podem entrar na área que não é a sua, sob pena de ser
agredido pelo outro”, informou Miquelina.
Somente na primeira noite foram registrados quatro
casos de pessoas feridas por arma branca, segundo a servidora pública e uma das
principais referências de luta entre as mulheres indígenas no Estado.
Outra proposta de solução apresentada pelos próprios
indígenas abrange as ruas das aldeias. “Eles querem que seja melhorada a
iluminação, principalmente nas proximidades de escolas e postos de saúde”, finalizou
Sinésio Isaque Tikuna.
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