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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Dois filhos de Francisca disputam prova em Manaus



Marcos Antônio Mura e João Marcos Mura enfrentaram maratona para chegar a Manaus, mas dizem que estão preparados para correr e ganhar. Foto: Isaac Júnior (Ascom/Seind)




MANAUS – A segunda edição da Corridinha Henrique Archer Pinto terá uma atração especial. A corrida infantil marcada para este sábado (20) vai contar com a participação de duas crianças indígenas: Marcos Antônio Mura, de 12 anos, e João Marcos Mura, de 10 anos. Eles encararam uma dura viagem de Humaitá para vencer barreiras e realizar o sonho de disputar a principal corrida pedestre da Região Norte.
Marcos Antônio e João Marcos fazem parte de uma família de 10 irmãos que vive no município de Humaitá (a 600 quilômetros de Manaus). Eles fazem parte da etnia Mura, que ocupa vastas áreas no complexo hídrico dos rios Amazonas, Madeira e Purus. Acompanhados pela mãe, Francisca Marques Mura, os meninos encararam uma verdadeira maratona na viagem até a capital amazonense.

Longa viagem
“Foi uma viagem sofrida. Uma aventura que só eu mesmo para encarar”. É desta forma que Francisca inicia a conversa com a reportagem do Portal Amazônia. Sair de Humaitá para Manaus não foi uma tarefa fácil. A família percorreu a BR-319, que liga as cidades de Manaus e Porto Velho, de carona. A viagem durou cerca de dois dias.

Francisca e os dois filhos viajaram em uma caminhonete ‘pau de arara’ com outras três pessoas. “Dormimos amontoados igual porcos”, contextualiza a mãe. Mas o aperto não foi a única dificuldade. “A estrada é horrível, cheia de buracos. Você olha pro lado e vê mato, olha pro outro e também só tem mato. Nós sofremos demais, passamos muito mal. Viemos na cara e na coragem. Mas o importante é que nós chegamos. Eles queriam vir de qualquer jeito e por eles eu faço qualquer coisa”, afirmou.

Por conta da capacidade pequena da caminhonete, um outro ‘corredor’ da família teve de ficar em Humaitá. Antônio Marcos Mura, de 11 anos, não conseguiu viajar para a disputa da Archer Pinto. Desde cedo os três irmãos mostram talento para a corrida. Em Humaitá, eles disputaram a Corrida Duque de Caxias no último dia 31 de agosto e ocuparam as três primeiras colocações da prova. O título ficou com o mais velho, Marcos Antônio.

Dois filhos de Francisca
Francisca orgulha-se do talento dos filhos e acredita em um bom desempenho na Corridinha Henrique Archer Pinto, ainda que a prova infantil não tenha caráter competitivo. “Eles estão muito confiantes e eu acredito neles”, disse.

Francisca e os filhos nunca haviam pisado em Manaus. A mãe ficou impressionada com a beleza da cidade. 

“É muito bonita. A temperatura aqui é mais quente, mas não chega a ser uma dificuldade. Pena que eu não conheço e não sei andar na cidade, mas pelo pouco que andei é muito linda”. Os três indígenas estão hospedados em Manaus na casa da mesma família que os transportaram para a capital.

Apesar da felicidade em disputar a Archer Pinto (uma corrida “muito bem falada”, como define Francisca), a vida da família indígena em Humaitá não é nada fácil. Francisca alega sofrer discriminação no município por conta do Caso Tenharim.

“A gente não é da mesma etnia, mas pelo fato de ser indígena a gente tá pagando pelos outros. Eu tô sofrendo e os meus filhos também. Estamos sendo discriminados, a gente não é bem tratado. Agora podemos andar na rua, mas porque a Força Nacional tá lá, a Polícia Federal também. Nós temos medo de ser atacados. A população atacou tudo. Tacaram fogo na Funai, nas viaturas, nos ônibus que levavam a gente para a cidade. Estamos pagando por uma coisa que a gente não fez”.

Apesar do drama, Francisca valoriza o fato dos filhos representarem os indígenas na competição em Manaus. “Eles vem representando a nossa cidade, a nossa comunidade e o nosso povo. Ainda sofremos muito preconceito, mas nada que deixe o nosso astral pra baixo. Quando a gente pode e quer realizar alguma coisa, não existem dificuldades. É o sonho deles, então eu enfrentei tudo isso pra eles não terem o que reclamar de mim. Todo mundo na comunidade está torcendo por eles aqui”.

Ajuda
Qualquer pessoa que queira ajudar dona Francisca e os filhos no retorno para o retorno a Humaitá, pode entrar em contato comela pelo número (97) 8105-4262.

Fonte: Portal Amazônia

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