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terça-feira, 30 de abril de 2013

Inscrição para disputa de assento em Conselho Municipal de Cultura encerra-se nesta terça-feira

Interessados em concorrer a uma cadeira no conselho devem apresentar documento de identificação e comprovação de moradia na reserva

Pela primeira vez a população ribeirinha poderá ter um representante no Concultura. Fotos: Divulgação/Semmas

O Conselho Municipal de Política Cultural (Concultura), entidade consultiva e deliberativa responsável pela definição da política cultural do município, abriu espaço para que as populações ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé possam disputar assento no segmento étnico do conselho. Só na comunidade do Livramento, uma das seis existentes no Tupé, moram representantes de ao menos 15 povos indígenas do Rio Negro. 

Pela primeira vez, essa população poderá ter um representante no Concultura, assim como os afrodescendentes. Os comunitários têm até esta terça-feira (30) para se inscrever.

Escritor e dramaturgo, o amazonense Márcio Souza, presidente do Conselho, que esteve visitando a RDS do Tupé na última quinta-feira (25), explica que o Estado que concentra a maior população indígena do Brasil não poderia deixar de ter uma representação em um conselho desta abrangência.

Márcio Souza destacou também o pioneirismo do conselho em ir até a população para divulgar seus objetivos. Um estande foi montado com o apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), na comunidade do Livramento, para receber as inscrições de toda a reserva.

A Semmas também apoiará os comunitários com o transporte até Manaus no dia dos fóruns para as eleições dos representantes dos segmentos da sociedade civil para os quais houver inscritos nas comunidades (musica, dança, teatro, artes visuais, literatura, cinema e vídeo, cultura étnica e projetos especiais).

Livramento e Agrovila também foram comunidades visitadas por Márcio Souza, para conhecer a realidade cultural dos ribeirinhos, que podem contribuir com as discussões dos temas ligados à produção cultural nas comunidades.
Márcio Souza em reunião com indígenas do Livramento
Um trabalho prévio de divulgação do edital do concurso e a distribuição da fichas modelo foram realizadas ao longo de toda a manhã de quinta-feira (25). Os interessados em concorrer a uma cadeira no conselho devem apresentar documento de identificação e de comprovação de moradia na reserva.
A comitiva do conselho foi formada por representantes da secretaria executiva do Concultura e os conselheiros representantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas). 

Márcio Souza ficou satisfeito com o interesse dos ribeirinhos e disse da importância de estimular esse tipo de prática, uma vez que, entre as populações que residem fora da zona urbana, também há muita riqueza cultural.

Fonte: Jornal A Crítica, com informações da assessoria de comunicação da Semmas
 


Comunidades indígenas do Vale do Javari e alto Solimões recebem mutirão de cirurgias e consultas

Ação tem a presença de 22 médicos, de acordo com o Ministério da Saúde. Foto: Divulgação/Ministério da Saúde
Um hospital de campanha com centro cirúrgico e equipamentos modernos instalado em plena Floresta Amazônica vai realizar 250 cirurgias e mais de 2 mil atendimentos a uma comunidade que reúne 52 mil indígenas entre 26 de abril e 4 de maio. A ação é fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde e a organização sem fins lucrativos Expedicionários da Saúde, que disponibilizaram a infraestrutura e os profissionais voluntários para realizar o mutirão de cirurgias e consultas médicas numa área de difícil acesso, o Vale do Javari e o Alto Rio Solimões.  O Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acompanhou de perto a ação no último dia 27, na Aldeia Santa Inês, no município de São Paulo de Olivença (AM), no alto Solimões.

“O grande esforço do Ministério da Saúde é levar a saúde mais perto dos povos indígenas, nas aldeias. Para isso, nós construímos várias parcerias – com o Ministério da Defesa, para a grande campanha de vacinação, tanto da gripe quanto das outras vacinas, e parcerias com médicos voluntários e organizações não governamentais para mutirões de cirurgias, de exame e de atendimento aos povos indígenas.”

Em nove dias, 22 médicos de diversas especialidades vão realizar cirurgias de cataratas, pterígios, hérnias, além de intervenções ortopédicas, ginecológicas e plásticas restauradoras para reparar lesões deformantes, defeitos congênitos ou adquiridos. Todos os 47.185 habitantes das 274 aldeias do Alto Rio Solimões e os 4.955 habitantes das 105 aldeias do Vale do Javari passaram por triagem. O mutirão complementa os atendimentos realizados em pelo Ministério da Saúde às populações indígenas assistidas pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) da região.

Os atendimentos serão feitos por cinco cirurgiões gerais, cinco oftalmologistas, cinco anestesiologistas, dois clínicos gerais, dois pediatras, dois ginecologistas, um ortopedista. Além dos médicos, quatro odontólogos, uma farmacêutica e dez enfermeiras. Haverá também uma equipe de logística e apoio, composta por 12 voluntários.

INFRAESTRUTURA 
A infraestrutura para o mutirão é composta por tendas com isolamento térmico, ar condicionado, monitores cardíacos, tubos de oxigênio para emergências, bisturis elétricos, aventais e campos cirúrgicos descartáveis, bem como instrumentos esterilizados. Além disso, os sete municípios da região disponibilizaram 16 embarcações para transporte dos pacientes até o hospital de campanha e uma equipe de 110 profissionais multidisciplinares de saúde indígena para dar o suporte ao mutirão.

EXPEDICIONÁRIOS DA SAÚDE 
Qualificada como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), a Expedicionários da Saúde foi criada em 2002, quando um grupo de amigos, formado por médicos e executivos, em viagem ao Pico da Neblina (AM) tiveram a oportunidade de conhecer uma aldeia Yanomami. A partir de então, surgiu a ideia de usar a experiência profissional deles para melhorar a qualidade de vida da população indígena daquela região.

O grupo realiza um serviço complementar aos programas existentes de atendimento à saúde indígena e regiões isoladas, levando medicina especializada.

Esta é a 25ª expedição do gênero que o grupo realiza desde a sua fundação, no ano de 2002. Desde então, a instituição já realizou mais de 3.087 cirurgias e 18.055 consultas, passando por vários municípios e comunidades. Em 2012, a ação dos expedicionários aconteceu na terra indígena Raposa Serra do Sol em Roraima. A prioridade é sempre para áreas indígenas de difícil acesso.

Fonte: Ministério da Saúde

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Educação superior ajuda indígenas do povo Mura a preservar o meio ambiente



Turma de indígenas recém-formados em Autazes. Fotos: Divulgação/Diário do Amazonas

Manaus - O município de Autazes (a 118 quilômetros de Manaus) acaba de ganhar a primeira turma indígena formada em nível Superior. Os 52 professores da etnia Mura, oriundos de diversas aldeias do município, se graduaram em licenciaturas para Letras e Artes, Ciências Humanas e Sociais e Ciências Exatas e Biológicas em um curso que uniu a sabedoria milenar dos indígenas e o conhecimento científico do homem branco.

A iniciativa partiu do próprio povo Mura que, após concluir o curso de Magistério Indígena da Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc), fez a proposta de obter o nível Superior para a Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

“O magistério só dava condições para trabalhar até a 4ª série do (ensino) Fundamental e estávamos preocupados com a formação de nossos professores e crianças. Quando fizemos a proposta para a Ufam não havia nenhum curso voltado para os indígenas. Fomos o primeiros a demandar este curso específico”, disse Mariomar Moreira de Souza, 43 anos, professor da aldeia Trincheira.

O curso, criado em 2007 e implementado em 2008, é realizado pela Faculdade de Educação (Faced) e foi denominado Licenciatura Específica para a Formação de Professores Indígenas Mura. Desde o início, a formação propôs uma educação diferenciada, com uma metodologia que respeitasse e abordasse a cultura dos Mura, fazendo do índio o próprio pesquisador de seu ambiente.

Após cinco anos de formação, Mariomar e os 51 indígenas concluíram seus cursos neste mês e voltarão para as escolas de suas aldeias levando o conhecimento adquirido por meio da universidade. No total, serão beneficiadas dez aldeias com mais de 2.700 habitantes ao redor do município de Autazes.

Ao todo, foram 23 trabalhos de conclusão apresentados em uma fazenda no Ramal dos Padres, km 22 da BR-174, onde o grupo ficou hospedado para finalizar a última parte do curso no mês de abril.

Na área de Biológicas, o grupo de Mariomar se destacou com uma pesquisa sobre a caça na região da aldeia Trincheira. Devido ao aumento populacional e a perda de práticas para o cultivo da floresta, certas espécies de animais estão desaparecendo na região, o que motivou o grupo a pesquisar sobre o fato.

Orientados pelo professor e mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Ufam, Washington Mendonça, a equipe fez um levantamento de dez meses, no decorrer de 2011, sobre os animais abatidos na região.

“O objetivo era chamar a atenção do nosso povo para o que a caça predatória pode fazer com a fauna e flora de nosso ambiente. Não queremos denunciar a prática da caça, mas, torná-la sustentável”, disse Mariomar.

Durante a pesquisa, alunos do 4º ao 9º ano do Ensino Fundamental das escolas de Trincheira ajudaram na coleta de dados e nas entrevistas com os caçadores. Foi descoberto que animais como a paca, o tatu e a cutia são os mais abatidos e não estão chegando à fase de reprodução. Outro ponto crucial constatado foi o desaparecimento de espécies de grande porte, como a Anta.

“Além de conscientizarem o povo sobre a caça, o grupo ainda fez uma coleção zoológica aproveitando os crânios, penas e bicos dos animais caçados para usar em sala de aula”, explicou o professor Washington.

Em Ciências Exatas, quatro trabalhos foram produzidos com foco no ensino da Matemática. O orientador Gerson Bacury, graduado em Matemática e mestre em Educação pela Ufam, ajudou os professores indígenas a criarem métodos de ensino por meio de jogos e uso de material concreto para crianças do Ensino Fundamental.

“Utilizamos a metodologia do ensino no contexto indígena. Os materiais concretos que eles utilizaram vinham do próprio ambiente da aldeia, como tampinhas de garrafas pet ou sementes de tucumã. Os jogos também foram confeccionados na própria aldeia. Isso é um trabalho único na área”, destacou o professor.

O grupo do indígena Rosemberg Corrêa, 35, verificou que os alunos do Ensino Fundamental da aldeia São Félix tinham dificuldade nas operações de multiplicação. Para facilitar a aprendizagem o grupo criou o jogo de cartas chamado ‘Advinha a multiplicação’.

O jogo consiste em dois jogadores e um mediador. O mediador sabe o resultado da multiplicação das duas cartas. Para ganhar, a criança deve responder qual é o número da carta antes do adversário. “Percebemos que eles ficaram muito satisfeitos e pararam de faltar aula. Agora, pretendemos aplicar os jogos em todas as outras disciplinas”, contou Rosemberg.

As dificuldades no aprendizado dos cálculos também foi tema do projeto de Bernardo de Santos Soares, 40, e Luís de Souza Matos, 32, da aldeia Josefa. Para isso eles utilizaram o material concreto como forma de ensinar matemática efetivamente, “Vimos que muitos sabem matemática porque decoram a tabuada e não porque conhecem os cálculos. Com esse método de usar as sementes de tucumã ou as tampinhas eles aprendem o que são dezenas e centenas. Agora, esperamos mudar o paradigma de aprendizado de nossas crianças indígenas”, declarou Bernardo.

Dicionários documentaram o saber dos povos indígenas
O curso de Licenciatura da etnia Mura se encerra hoje e deixa um legado para os indígenas: o registro de seus conhecimentos milenares.

Na área de Letras foram produzidos nove dicionários que documentam os saberes do povo em diversas áreas, como as variedades de plantas e árvores, espécies de peixes e receitas medicinais.

“Os índios têm uma cultura de passar o conhecimento por meio da oralidade. A partir do momento que se tem escola é possível registrar esse conhecimento”, disse a professora Cristina de Cássia Borella, mestre em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que orientou os alunos na conclusão dos trabalhos.

“A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas com os mais idosos da aldeia. Foi observado que muitas das espécies de peixes e árvores da região estavam desaparecendo, e, com os dicionários, podemos agregar valor ao conhecimento que eles já tinham e garantir que seja passado a outras gerações”, explicou a professora Cristina.

Atualmente, o curso de licenciatura, que antes era direcionado aos Mura, agora abrange mais duas etnias e passou a se chamar Licenciatura Específica para Formação de Professores Indígenas. Em 2011, os Munduruku e os Saterê-Mawé iniciaram seus cursos e no final deste mês terão aulas dentro do novo Centro de Formação de Professores Indígenas, na Fazenda Universitária da Ufam, localizada no km 39 da BR 174.

O professor Washington Mendonça afirmou que isso é um marco na história, tanto para os indígenas como para a universidade. “O índio agora faz o trabalho que o pesquisador saía de Manaus para fazer. É algo incrível, pois, ele não só ajuda a sua aldeia com o conhecimento como também o registra em níveis acadêmicos. Isso nunca foi feito antes e vai trazer muitos frutos”, ressaltou o professor.

Fonte: Diário do Amazonas