Liderada pelo indígena tukano Maximiliano Tukano, do
rio Negro, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
(Coiab) tem nova diretoria para os próximos quatro anos. A eleição foi
realizada durante a 10ª Assembleia Geral Ordinária e Eletiva da entidade,
realizada entre os dias 26 e 30 de agosto, na terra indígena Umutina, no
município de Barra do Bugres (MT).
O evento teve o apoio do Governo do Amazonas, que
foi representado pelo titular da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas
(Seind) e membro do Conselho Diretor do Fundo Indígena para a América Latina e
Caribe, Bonifácio José Baniwa.
Maximiliano é ex-diretor da Federação das
Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e assume o lugar de Marcos Apurinã.
A nova diretoria é formada ainda por Lourenço Krikati (vice-coordenador), do
Maranhão; João Neves Galibi (secretário), do Amapá; e Francinara Baré
(tesoureira), também da região do rio Negro.
Aproximadamente 300 indígenas – dos nove estados da
Amazônia legal que integram a entidade – participaram da assembleia da Coiab,
que foi realizada pela primeira vez no Mato Grosso e também teve a participação
a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Augusta Assirati; de
membros da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica); do
vice-governador de Mato Grosso, Chico Daltro; do prefeito e vice de Barra do
Bugres e de representantes do Ministério Público Federal daquele Estado.
Alguns dos principais momentos da assembleia, que contou com pessoas ilustres como a cantora Djuena Tikuna |
Além da eleição, os participantes promoveram um
ciclo de debates acerca de assuntos relevantes para o movimento indígena, entre
os quais a reestruturação da própria Coiab, direitos indígenas, saúde,
demarcação de terras, sustentabilidade econômica e outros.
“O discurso das lideranças teve a preocupação
de enfatizar as ameaças que nossos povos vêm sofrendo em relação aos direitos conquistados,
tanto na Câmara Federal, quanto no Senado”, informou Bonifácio José. “A reunião
mostrou o fortalecimento do movimento indígena na Amazônia e em nível nacional
e internacional, para cobrar respeito aos direitos garantidos na Constituição
de 1988”, concluiu o secretário da Seind.
Aldeia de Umutina, no Mato Grosso, recebeu indígenas de nove estados da Amazônia |
Ao final das discussões, os indígenas apresentaram a
Carta Aberta da 10ª Assembleia Geral Ordinária da Coiab (ver abaixo).
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Carta
Aberta da X Assembleia Geral Ordinária da COIAB
Nós, representantes dos povos indígenas da Amazônia
Brasileira, Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Roraima, Rondônia,
Tocantins e Pará, reunidos entre mais de cento e vinte lideranças na aldeia
Umutina, município Barra do Bugres/MT, aqui, na última fronteira da Amazônia
região castigada, porém resistente à fúria do agronegócio.
No território Umutina, nos reunimos entre os dias 26
a 29 de agosto de 2013, falamos diversas línguas, mas com um só sentimento. É
necessário o embate às tentativas de extermínio que sofremos. Há 513 anos
sobrevivemos acreditando em nossas verdades, que não há nada mais sagrado que a
terra em que vivemos e fazemos viver.
Andamos na contramão do “progresso do capital”, que
defende a destruição dos nossos territórios, que nos submete a leis
anti-indígenas, como a PEC 215 e tantos outros projetos de morte, embalados pelo
rolo compressor da política brasileira. É preciso continuar lutando. Os
guerreiros e guerreiras da Amazônia são fortes e jamais desistirão. Quem nos
representa, se não somos nós mesmos?
Diante do cenário extremamente critico e doloroso em
que os nossos direitos são violados e desrespeitados pelo estado brasileiro,
direitos estes conquistados e garantidos na Constituição Federal de 1988, após
muita luta e resistência de nós povos indígenas do Brasil.
Neste encontro, nos reunimos para discutir e
manifestar nossa indignação diante desse cenário totalmente anti-indígena, em
que o Estado se omite, assim como para nos fortalecer em defesa de nossa vida,
de nossos filhos e das futuras gerações.
O nosso grito de protesto é contra o modelo de
desenvolvimento adotado no Brasil que estimula as desigualdades. Nunca se viu
na história recente do país, tanta revolta das massas. Vivemos um momento que o
país parece ter acordado de um coma profundo, a multidão nas ruas protesta,
levando o grito e o clamor dos que lutam por justiça.
Somos a voz que não se cala. Somos os guardiões da
floresta, a natureza viva até o último índio, somos a revoada de pássaros
multicoloridos e de longe se houve o grito de resistência.
Fortalecer a luta para garantir os direitos
indígenas. Viva a Amazônia Indígena.
Barra do Bugres (MT), Aldeia Umutina, 29 de agosto
de 2013.
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