Aproximadamente 70 pessoas participaram dos debates. Fotos: Paulina Neto e André Baniwa (Divulgação) |
A
Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e a Fundação Nacional
do Índio (Funai), em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), realizaram,
entre 28 e 30 de janeiro último, o seminário de Educação Escolar Indígena. O
evento reuniu 13 comunidades indígenas da região do Médio Rio Negro 1 e 2, na
comunidade de Itapereira, localizada no limite dos municípios de Santa Isabel
do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus).
Aproximadamente 70 pessoas dos povos Arapaso, Baré, Baniwa, Carapanã, Cubeo, Desano, Piratapuia, Tariano, Tukano e
Tuyuka participaram do evento, incluindo lideranças das comunidades e das associações indígenas,
diretores da Foirn, representantes da Coordenadoria das Associações Indígenas
do Médio e Baixo Rio Negro (CAIMBRN), do assessor do Departamento de Assuntos
Indígenas, da prefeitura de São Gabriel da Cachoeira, professores indígenas,
pais e alunos.
O
seminário faz parte do projeto “Seminários de Educação Escolar Indígena”,
lançado em 21 de janeiro de 2014, na Casa do Saber da Foirn, no âmbito da
política do Território Etnoeducacional e da perspectiva da Política Nacional de
Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), política
instituída pelo decreto 7.747, de 5 de junho de 2012.
O
projeto tem como objetivo realizar um diagnóstico ampliado e aprofundado sobre
a realidade da educação escolar indígena nas cinco regiões administrativas do
Rio Negro, além de promover o intercâmbio de experiências, propor melhorias e
inovações de infraestrutura, metodologias de ensino, formação de professores
indígenas, elaboração de projetos políticos pedagógicos indígenas e, de forma
mais ampla, aprofundar a discussão político-filosófica da educação escolar
indígena e suas especificidades rio negrinas.
Libório Sodré, durante a apresentação dos grupos de trabalho |
As
discussões, durante os três dias de encontro, se pautaram nas temáticas: “Os
direitos indígenas no Brasil e políticas de territorialidades do governo
federal no Rio Negro”; “A prática da educação indígena e educação escolar
indígena”, “Pngati na educação escolar indígena do Rio Negro” e apresentações
das experiências das escolas Pamáali (Baniwa) e Utapinopona (Tuyuka). (Veja no
final do texto trecho do depoimento do professor Higino Tuyuka e de André
Baniwa).
Um
dos pontos principais nos debates foi a importância, destacada pelas
lideranças, no fortalecimento da educação indígena - baseada na transmissão dos
conhecimentos orais de pai para filho e da educação escolar indígena como um
espaço de produção de conhecimentos indígenas e não indígenas, inserindo o
processo de letramento em línguas indígenas e portuguesa e produção de
materiais, baseados em pesquisas realizadas nas escolas e comunidades.
Grupos fazem diagnóstico das escolas indígenas |
Outro
fator considerado imprescindível – durante a apresentação dos diagnósticos das
escolas, realizados pelos grupos de trabalho - foi a consolidação da educação
escolar indígena do Rio Negro a partir do processo de elaboração dos Projetos
Políticos Pedagógicos Indígenas e seu reconhecimento pelos conselhos municipal
e estadual de educação.
Além
disso, o Território Etnoeducacional do Rio Negro e a Política Nacional de
Gestão Ambiental e Territorial para as Terras Indígenas (PNGATI) devem atender
as especificidades das escolas indígenas na região do Rio Negro, atentando para
a infraestrutura escolar, publicação de materiais didáticos a partir das
pesquisas indígenas, transporte escolar e merenda escolar localizada.
André
Baniwa e Higino Tuyuka dão seus depoimentos:
"O
Rio Negro já tem mais de 200 anos de contato, mas há milênios nossos ancestrais
já estavam aqui. Nós temos que nos reorganizar porque o contato desorganizou a
gente. A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro é uma reconstituição
das nossas forças, que já existiam no passado. Se a gente pensar nisso as lutas
valeram a pena. Muitos já não estão aqui. A gente continua, não só fisicamente,
mas também politicamente. Devemos dar continuidade à nossa luta. Que os jovens
possam pensar, refletir e dar continuidade à isso. É a nova geração que vai
continuar, sempre". André Baniwa.
"Temos
que planejar o trabalho dentro da PNGATI. Na educação, como vamos inserir essa
politica dentro do currículo da escola? Por aqui estamos acostumados a receber
o prato feito de quem vem de fora. Eu sou desconfiado do sistema de ensino.
Como dizem os analistas em educação: o currículo vem do 'saber sabido'. Por
isso é importante ter esse cuidado, precisa pensar em como inserir essa
política. Uma proposta é pensar escola profissionalizante indígena e dentro
dessa escola estudar o tema Gestão Ambiental, para que esses jovens e adultos
virem técnicos e no futuro cuidem de seu território, trabalhando em sua própria
comunidade. E é necessário que esse curso profissionalizante seja implementado
de forma rápida e que o currículo seja construído em conjunto com professores,
lideranças indígenas e alunos". Higino Tuyuka.
Fonte: ISA
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