Cerimônia de formatura na UEA, que formou 632 indígenas. Fotos: Roberto Carlos (Divulgação/Agecom) |
O Governo do Estado, por meio da Universidade do
Estado do Amazonas (UEA), realizou na noite desta quinta-feira, 28 de agosto, a
cerimônia de outorga de grau de 1.870 acadêmicos da primeira turma do Curso
Superior de Pedagogia Intercultural, do Programa de Formação de Professores
Indígenas (Proind), da UEA. A cerimônia foi realizada na reitoria da
universidade e transmitida por meio do Sistema Presencial de Ensino Mediado por
Tecnologia (IPTV) para 51 municípios do interior do Estado e Manaus.
O curso, iniciado em 2009, teve uma carga horária
total de 3.310 horas e foi oferecido de forma especial, no período de recesso
acadêmico dos cursos regulares. As aulas foram realizadas nas unidades da UEA
nos municípios do interior do Estado e também da capital. O objetivo da
licenciatura é formar professores para o exercício da docência na Educação
Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, nas diferentes modalidades de
ensino e no acompanhamento do trabalho pedagógico por meio de uma perspectiva
intercultural, envolvendo indígenas e povos de diversas populações tradicionais
da Amazônia.
De acordo com o vice-reitor da UEA, Mário Bessa, o
ingresso de indígenas e pessoas de diferentes identidades amazônicas,
representa um enorme passo para a integração desses povos à sociedade e na
evolução da educação no Estado. “Na última década, apenas 5% das pessoas no
Estado possuíam formação de nível superior. Então, para a UEA, é uma satisfação
muito grande poder formar esses indígenas hoje”. Segundo Mário Bessa, a
formação desses profissionais reforça a educação básica em 52 municípios onde
foi realizado o curso e é um dos princípios da universidade, com a
interiorização do ensino.
O diferencial da graduação é a promoção da
interculturalidade, pela qual os indígenas se relacionam com não indígenas,
cumprindo o papel social da universidade. Serão oferecidos três cursos de
pós-graduação aos recém-formados em Manaus e no interior. Dos 1.870 novos profissionais,
632 são indígenas e os demais são provenientes de diferentes identidades
amazônicas, entre elas, populações tradicionais, comunidades ribeirinhas,
comunidades quilombolas, além de homens e mulheres do campo. Aldenor Félix, 38,
foi um dos formandos que receberam o diploma na noite de ontem.
Novos graduados terão a oportunidade de fazer pós-graduação |
Reforçando identidade cultural –
Pertencente à etnia Ticuna e vindo do município de Benjamin Constant, Aldenor
que trabalha na Secretaria Municipal de Educação há oito anos e mora em Manaus
há 16 anos, quando veio estudar, ressalta a importância do curso em sua
formação e agora pretende levar o conhecimento para os moradores da comunidade
Filadélfia, onde nasceu e foi criado. “Hoje, nós vamos poder trabalhar e levar
esse conhecimento para o restante do nosso povo. Nós vamos mais que reforçar a
cultura indígena, mas mantê-la ao repassar para as crianças e jovens, que antes
não sabiam escrever na sua língua”.
Indígena da etnia Ianomami, Maria Nunes iniciou os
estudos em 2009 no município de Barcelos, onde nasceu e vivia, na comunidade
Posto Ajuricaba, mas transferiu o curso para Manaus um ano depois. Após o
termino da graduação, ela pretende retornar para cidade e trabalhar dentro da
comunidade, repassando o que aprendeu as mais de 25 famílias que vivem no lugar.
“Quero ajudar o meu povo e para isso pretendo voltar para Barcelos. Além de
aprendermos questões como metodologia de ensino, nós também aprendemos sobre os
nossos direitos e isso é extremamente importante, para que possamos repassar
aos nossos parentes”.
Benefícios – A coordenadora do curso, Adria
Simone de Souza, ressalta que o Proind trouxe diversos benefícios para os
municípios onde o curso foi realizado, entre eles, o alcance social, o diálogo
intercultural entre diferentes sujeitos, além das contribuições à educação por
meio de estágios, minicursos, entre outros. “Formar esses profissionais é
avanço para o processo do cumprimento da missão da UEA que é a interiorização,
tudo isso realizado por meio da discussão das diferentes realidades do Amazonas.
Essa é a principal contribuição do Proind”, destacou Souza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário