Indígenas de todas as idades participaram da ação. Fotos: Divulgação/Seind |
Por: Isaac Júnior
Com a estimativa de atender aproximadamente 1,5 mil
indígenas que vivem em Manaus e entorno da cidade, e na expectativa de estender
a ação também para o interior do Estado, foi realizada nesta sexta-feira (4),
na capital amazonense, a 1ª. Ação de Cidadania Indígena. O evento faz parte do
programa “Cidadania é Direito de Todos”, uma iniciativa do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), que busca promover a cidadania a populações indígenas por meio do
Registro de Nascimento Civil.
Coordenada em conjunto pela Secretaria Nacional de
Direitos Humanos (SNDH) e o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJA), a ação foi executada
pelo Governo do Amazonas, por meio das secretarias de Estado de Assistência
Social (Seas), dos Povos Indígenas (Seind), e de outras instituições como a
Fundação Nacional do Índio (Funai).
Acompanhado da presidente do TJA, desembargadora Maria
das Graças Pessoa Figueiredo, e da secretária adjunta da Seas, Nádia Lúcia
Soares, o titular da Seind, Bonifácio José Baniwa, reconheceu a grandiosidade
do evento e pediu que a ação também seja estendida aos demais municípios do
Estado. “O trabalho não é fácil, devido à geografia do nosso Estado, mas precisamos
levar essas ações para o interior”, disse Bonifácio. O recado foi dado e ouvido
por um público grande e ansioso para receber atendimento nas instalações do
Centro de Convivência do Idoso, no bairro Aparecida, na Zona Sul.
O secretário lembrou que o projeto teve início em
maio do ano passado, quando Seas, Seind e demais parceiros começaram a mobilizar
as organizações indígenas, por meio de um levantamento etnográfico nos bairros
de Manaus e nas comunidades localizadas no entorno. Na primeira etapa foram
ouvidos indígenas do Nova Floresta, Jorge Teixeira (Ramal do Brasileirinho),
Cidade de Deus, Coroado, Colônia Antônio Aleixo, Ouro Verde e Zumbi, na Zona
Leste; e do Japiim, na Zona Sul. “Esta ação começou com o levantamento dos
dados da população indígena e agora está tomando proporções gigantescas”,
reconheceu o secretário.
A exemplo do que disse em 2011, a desembargadora Maria
das Graças destacou a preocupação do judiciário em legalizar a situação dos
indígenas com a Certidão de Nascimento. A pesquisa prévia teve o objetivo de
comprovar a etnia de origem de cada indígena ouvido. “O Estado tem assumido o
compromisso com os povos indígenas, desde o governo anterior, em construir as
políticas públicas para essas populações no Amazonas”, afirmou o secretário da
Seind, citando como exemplo desse avanço, o Termo de Cooperação Técnica firmado
entre o Governo do Amazonas e a Funai, que culminou com a criação do Comitê
Gestor Indígena.
Muita gente foi à ação realizada no Centro de Convivência do Idoso, no bairro Aparecida, para tirar os documentos |
Sem nada
Indígenas de todas as idades formaram filas para
receber os benefícios da ação de cidadania. Alguns bem mais ansiosos. Como é o
caso de Sheila Oliveira Sateré, 23. Natural de Maués, da aldeia Vila Nova 2,
ela mora em Manaus desde 2001, mas, desde então, trava uma batalha para obter documentos
básicos como o Registro de Nascimento Indígena (Rani) e a própria Certidão de
Nascimento. “Eu fugi de casa aos dez anos e já tive de fazer faxina para correr
atrás dessa papelada”, disse Sheila, afirmando que, nesse período, foi obrigada
a tirar 12 certidões negativas para poder obter o registro.
Acompanhada do marido, Sheila Sateré mostra uma das certidões negativas que apresentou para tirar documento |
Sheila estava numa comitiva de aproximadamente 50
indígenas, que fazem parte da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé
(Amism). “Há uma semana, ela não consegue dormir, nervosa e contando os dedos
para que este dia chegasse”, afirmou Jucenilde
Souza Sateré, amiga de Sheila.
Sem a documentação, Sheila não pode sequer
matricular o filho de seis anos na escola. “O pai vai lá, mas eles não
matriculam”, disse, chateada com a situação, enquanto aguardava o atendimento na
ação de cidadania.
Outras atividades
O dia foi longo e proveitoso para os indígenas. Além
de retirar documentos, a ação também possibilitou que eles pudessem tirar fotos,
receber serviços de corte de cabelo, atendimento médico, dentre outros, que
foram possíveis graças também a outros parceiros da ação como Exército, INSS,
Correios, Setrab, Susam, Semasdh, Cetam e Cartórios de Registro de Pessoas
Naturais.
Espaço serviu também para que os indígenas mostrassem seus produtos. Foto - Divulgação-Seind |
Servidores da Seind na ação: Rose Meire Barbosa, Miquelina Barreto (de azul e em pé na foto abaixo) e Deníziu e Sinésio Isaque Tikuna (em pé, na foto abaixo à direita) |
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