Ação vai da extração do produto à comercialização de peças, que começa na própria oficina. Fotos: Divulgação/Seind |
Comunidades
indígenas de três municípios amazonenses são as primeiras a utilizar o látex de
diferentes espécies de seringueiras na produção de peças artesanais. O trabalho
é desenvolvido por meio da técnica conhecida como “eucauchados”, que combina
conhecimentos tradicionais e científicos (processos industriais), aprimorados e
adaptados para serem utilizados de forma artesanal na própria floresta.
O
projeto é executado pelo Polo de Proteção Biodiversidade e Uso Sustentável dos
Recursos Naturais (Poloprobio) em parceria com o Governo do Amazonas, que tem
incentivado as comunidades indígenas a desenvolver a técnica, por meio da
Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind). A iniciativa conta com
recursos da Petrobras e o apoio de instituições como o Banco do Brasil,
Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Fundação
Nacional do Índio (Funai).
A
participação dos indígenas do Amazonas no projeto começou este ano em
comunidades de Autazes, São Gabriel da Cachoeira e, mais recentemente, em Borba
(a 150 quilômetros de Manaus). De acordo com a chefe do Departamento de
Promoção dos Direitos Indígenas da Seind (Depi), Rose Meire Barbosa, a Seind
tem um papel importante nesse processo. “Cabe à secretaria diagnosticar o
potencial produtivo, assessorar o Poloprobil na implantação da unidade e
incentivar a participação dos indígenas, facilitando a logística para a
realização das atividades”, informou Rose Meire.
Indígena aprende a utilizar o látex na produção de peças artesanais |
No
início é realizado um diagnóstico do potencial de cada comunidade. Em seguida,
os indígenas participam de oficinas que aliam o conhecimento tradicional com o
científico, num trabalho simples que agrega valor ao produto (borracha), sem
qualquer interferência no estilo de vida dessas pessoas e sem causar prejuízos
ao meio ambiente.
Em
Borba, por exemplo, a atividade reuniu 30 produtores e mais três seringueiros
indígenas do povo Munduruku, da Aldeia Laranjal, situada no médio rio Madeira.
A ação deverá gerar benefícios para mais de 200 pessoas, de forma indireta.
Workshop
O
projeto tem gerado oportunidades de trabalho e renda para as populações
indígenas, a partir das próprias oficinas. Ao final de cada atividade, tudo o
que é produzido passa a ser comercializado num workshop. “Em Borba, eles
conseguiram vender em torno de R$ 600 no workshop”, informou o servidor da
Seind Ageu Sateré, que esteve no município, acompanhado de uma técnica do
Poloprobil.
Resultado do trabalho também pode ser visto nas camisas |
Oficina em Belém
Além
da capacitação, o projeto também possibilita o intercâmbio entre os indígenas
da Região Norte. Durante os próximos dez dias, a cidade de Belém será sede da
Oficina de Capacitação entre Multiplicadores de Encauchados Vegetais da
Amazônia. O Amazonas estará representado no evento por Dalvino Souza Mura, 42,
da aldeia Muritinga, e por dona Amilta Munduruku, da aldeia Laranjal.
Ambos
estiveram sexta-feira (30 de novembro) na Seind, para fechar os últimos ajustes
da viagem até a capital paraense. “O projeto é bom”, destacou Dalvino. “Esta
oficina (programada para um assentamento) é para capacitar os seringueiros e irá
nos ajudar no dia a dia com nossas comunidades”, acrescentou o indígena, que é
filho de seringueiros e trabalha no ramo há mais de 20 anos.
Dalvino segue tradição de família, mas para ele, dessa vez o trabalho com o látex vai além da extração |
Reaproximação
Criado
em 1998 em Rio Branco, no Acre, e transformado em Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público (Oscip) em 2002, o Poloprobil desenvolveu a pesquisa
dos encauchados junto a populações indígenas e comunidades extrativistas da
Amazônia, com o objetivo de reaproximar o extrativismo da borracha e seus
benefícios das populações indígenas e comunidades extrativistas da Amazônia.
Atualmente,
a entidade contribui para o desenvolvimento local, por meio de práticas
sustentáveis, com atuação em projetos de pesquisa, desenvolvimento, repasse de
tecnologia, inovação e extensão.
Vista frontal da Aldeia Laranjal e dos indígenas que participaram da oficina no médio rio Madeira |
Nenhum comentário:
Postar um comentário