Técnico da Seind, Ronisley Martins mostra o marco número seis, encontrado pelo grupo durante o dia. Fotos: Divulgação/Seind |
Em contato direto com um ambiente hostil, repleto de
cobras, bando de queixada (porco do mato) e vestígios de onça, entre outros
animais, dois técnicos da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind)
e oito indígenas do povo Apurinã encerraram nesta segunda-feira (dia 17), a
primeira parte do acompanhamento técnico de limpeza das picadas demarcatórias
das terras indígenas Jatuarana e Fortaleza do Patauá. O trabalho foi realizado durante
uma semana e ficou centrado na identificação dos marcos da área que abriga as
duas aldeias, no município de Manacapuru (a 84 quilômetros de Manaus).
Uma segunda etapa está prevista para 2013, quando
serão processadas as picadas nos locais demarcados. O objetivo é deixar, limpo,
os limites das terras e evitar invasões nas duas localidades.
A atividade representou o encerramento das ações executadas
pelo Governo do Amazonas no ano de 2012, em cumprimento às condicionantes
ambientais indígenas para atendimento ao Programa de Compensação e Mitigação
dos Impactos Ambientais da Ponte Rio Negro.
“Já levamos material como bota e terçado, mas no
próximo ano voltaremos lá para realizarmos todo o processo de picadas, com
calma e de acordo com a disponibilidade dos próprios indígenas”, informou o
técnico do Departamento de Etnodesenvolvimento da Seind (Detno), Cláudio
Pequeno, do povo Apurinã. “Levaremos as placas de identificação da Funai que
estão faltando, com dizeres como Proibido a entrada de Pessoas Estranhas, bem
como tudo o que é necessário para a identificação desses locais como áreas demarcadas”,
acrescentou.
Trabalho começa cedo e o terçado é um dos equipamentos utilizados |
A
ação em Manacapuru faz parte do plano de trabalho da câmara Melhoria da
Qualidade de Vida dos Povos e Comunidades Indígenas, do Comitê Gestor de
Atuação Integrada entre o Governo do Amazonas e a Fundação Nacional do Índio
(Funai).
Demarcadas
e homologadas
Das áreas beneficiadas, Jatuarana é a que detém o maior
espaço, com 5.251 hectares. A homologação e demarcação do local ocorreram no
dia 28 de outubro de 1991, durante o governo de Fernando Collor de Melo. Já Fortaleza
do Patauá ocupa uma área de 743 hectares, homologada e demarcada no dia 19 de
abril de 2004, no governo Lula.
Como o serviço de manutenção das picadas já foi realizado
pela Funai, durante e após a demarcação, apenas alguns locais precisam de
reparos, segundo a avaliação técnica da Seind. “Eles precisam ser limpos e
recuperados para depois colocarmos as placas de sinalização, no sentido de que
não fiquem camufladas no mato e que as pessoas possam visualizá-las, visto que lá
é uma terra indígena demarcada, é de uso restrito daquela população e não pode
ser invadida”, destacou o técnico da Seind Ronisley Martins, que também esteve
nas atividades executada nas duas aldeias.
Sobrevivência
Para
realizar o acompanhamento técnico nas duas terras indígenas de Manacapuru, o
grupo de dez pessoas precisou unir os conhecimentos tradicionais às técnicas de
sobrevivência, principalmente no período noturno. Sem elas, já não seria
possível cumprir o cronograma que já sido estabelecido antes de entrarem na mata.
“Teve uma noite que ninguém conseguiu dormir, por conta de um animal
desconhecido que ficou gritando, sem parar, das dez horas até cinco da manhã”,
disse Cláudio Apurinã. “Tivemos de fazer vigília para não sermos surpreendidos”, observou.
Atividade une conhecimento tradicional a técnicas de sobrevivência |
Equipe teve de encarar cobras como esta, além de outros animais perigososd |
Além do perigo iminente, o grupo
precisou correr contra o tempo para cumprir toda a programação. Uma das saídas
foi começar o trabalho mais cedo e seguir sem intervalo, até as primeiras horas
da noite, no mais tardar.
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