Pesquisar este blog

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estudantes vivem um dia de índio em escola da rede estadual de ensino no Amazonas

Alunos como Josiane contaram um pouco da história dos indígenas na feira

Por: Isaac Júnior

A história de luta e cultura dos povos indígenas no Amazonas, desde a época da chegada dos europeus ao estado até os dias atuais, transformou corredores em trilhas e salas de aula em aldeias, nesta quarta-feira (30), na Escola Estadual Francisca Botinelly Cunha e Silva. Aproximadamente 600 alunos tiveram “um dia de índio” com a realização da 1ª Feira Indígena da instituição, localizada na avenida Pedro Teixeira, ao lado da Vila Olímpica, no bairro Dom Pedro, Zona Centro-Oeste.
Salas de aula foram transformadas em aldeias simbólicas para dar ênfase ao evento
A atividade teve apoio da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind) e foi marcada por danças, rituais, artesanato e explanação dos próprios alunos sobre a temática. A pesquisa durou meses e foi além das quatro paredes do colégio, numa viagem que chegou a etnias como Baniwa, Kokama, Tukano, Munduruku, Kambeba. Cada povo foi representado em turmas e salas diferentes.
Artesanato dos Munduruku também fez parte da apresentação das equipes
O evento foi tão original, que até uma indígena de verdade terminou com a curiosidade da maioria dos participantes. Danielle Soprano Kambeba, 24, apresentou-se a caráter, vestida de longo e acessível a todas as perguntas feitas em relação à origem e história do povo dela. A indígena revelou que os Kambeba representam um dos primeiros povos indígenas a andar vestidos no estado, até a chegada dos “colonizadores”. “Tínhamos grandes plantações de algodão e, além de plantarmos, nós colhíamos e tecíamos a roupa, tanto do homem quanto da mulher”, disse. “Esse tipo de atividade aqui na escola é importante, porque os alunos passam a conhecer a história dos povos indígenas no estado, possibilita esse conhecimento também à comunidade e mostra que a educação vai além do banco da escola”, resumiu Danielle.
Todos queriam tocar em Danielle Kambeba, a indígena que participou de forma caracterizada
Até quem não é do Amazonas se rendeu à atividade. Foi o caso da aluna Stefany Francisco, 13, que tinha uma ideia totalmente diferente dos indígenas antes de vir morar em Manaus, há um ano. “Sinceramente, eu achava que iria encontrar índio andando pelas ruas da cidade, mas agora vejo que não é nada disso”, comentou. “É uma cultura diferente, com roupa diferente, que precisa ser respeitada”, advertiu.
Estudantes estavam motivados para falar dos indígenas e mostrar algumas de suas atividades
A mesma postura de Stefany teve a goiana Emily Ferreira, 13, que ficou vislumbrada com a apresentação dos colegas de sala do sexto ano 1, Mayron Lopes, 11, e Josiane Silva, 11, sobre o povo Baniwa. O casamento entre os indígenas foi o que mais chamou a atenção da aluna. “O índio pode casar com duas índias e escolher uma, a mais nova, para ter filhos, e outra mais velha para cuidar”, explicou.
Mayron (terceiro, da direita para a esquerda) falou dos Baniwa nas décadas de 70 e 80
Durante a apresentação Mayron e Josiane leram um pouco da história dos Baniwa no Amazonas. Em pequenos pedaços de papel, eles relataram fatos do século 18, quando muitos foram capturados como escravos e trazidos das regiões do médio e alto rio Negro para a terra onde hoje está a cidade de Manaus. Também falaram das décadas de 70 e 80, quando vários Baniwa sofreram violência e até morreram por conta da exploração de mineradoras e projetos como o Calha Norte. ‘
Pequenos objetos também puderam ser conferidos
Na avaliação de estudantes e educadores, em pouco mais de duas horas, a escola obteve sucesso no objetivo traçado para a feira, que é divulgar a cultura dos povos indígenas no Amazonas. “A participação dos alunos foi importante para o processo de formação de cada um”, comemorou a gestora da escola, Rosilene Araújo.  “Foi uma forma de lutar pela sobrevivência dessas populações, porque todos nós somos mestiços (misturas de raças)”, acrescentou a professora Marlene Alves, que leciona as disciplinas de história e ensino religioso no sexto ano 1.
Missão cumprida para os alunos do sexto ano 1

Turma do nono ano também se sentiu recompensada


Nenhum comentário:

Postar um comentário