| Encenação do Ritual da Moça Nova prendeu a atenção de quem passeava pelo shopping. Fotos: Isaac Júnior (Divulgação/Seind) |
Por: Isaac Júnior
O Abril Cultural Indígena realizou uma façanha na
tarde desta sexta-feira (20) em Manaus. Pela primeira vez, o evento conseguiu
prender a atenção do público de um grande centro de compras, como é o Manauara
Shopping, com a encenação de um ritual indígena. O Espaço da Cidadania
Ambiental (Ecam), localizado no segundo piso do complexo, ficou pequeno para
acompanhar aquilo que seria o “Ritual da Moça Nova”, apresentado pelo grupo
indígena Wotchimaücü, do bairro Cidade de Deus, na Zona Leste da capital amazonense.
Esse tipo de cultura é tradicional entre alguns
povos, inclusive os Tikuna, e leva até um ano para ser preparado. O objetivo é
celebrar, da melhor forma possível, a primeira menstruação de uma jovem
indígena. “Levamos de cinco meses até um ano para juntar os alimentos e tudo o
que precisa, para que possamos fazer uma grande festa”, explicou o cacique
Reginaldo Marcolino, 52, que é da aldeia Umariaçu, no município de Tabatinga,
mas mora há 20 anos em Manaus.
As atividades do Abril Cultural Indígena no Ecam
começaram na última segunda-feira (16), com exposição de artesanato, danças,
cantos, entre outras. A realização é do Governo do Amazonas, por meio da
Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind) e parceiros como a
Secretaria Muncipal de Educação (Semed), que esteve à frente das atividades nesta
sexta-feira.
| Exposição de artesanato e outros produtos indígenas |
Os tikuna realizaram, ainda, uma aula na língua
nativa e cantaram músicas tradicionais, que geralmente são apresentadas em
eventos especiais como o que está ocorrendo desde o início da semana, em
comemoração ao mês indígena.
Além do grupo Wotchimaücü, músicas como
Nguta'keegü, que significa União, puderam ser ouvidas também na voz da cantora
Djuena Tikuna.
| Djuena Tikuna cantou músicas tradicionais, inclusive de autoria própria |
Muito o que comemorar
Para o titular da Seind, Bonifácio José Baniwa, a presença dos indígenas
caracterizados dentro de um shopping é resultado de conquistas que começaram lá
atrás, com muita luta. “Algumas pessoas me perguntam se temos alguma coisa para
comemorar, e eu digo que sim, pois, no passado, já quiseram até exterminar o
nosso povo, mas resistimos e hoje podemos entrar em espaços como este para
apresentar a nossa cultura a todos”, comemorou o secretário. “Considero isso um
exercício de cidadania da execução dos direitos do povo indígena, que é
construída pelo Governo do Amazonas, os parceiros e as próprias organizações
indígenas”, acrescentou.
| Secretário Bonifácio José fez referência às conquistas do povo indígena e diz que, apesar dos problemas, há muito o que comemorar no 'Dia do Índio' |
Este é o segundo ano consecutivo do Abril Cultural
Indígena e também representa a segunda participação do Ecam, que é coordenado
pela Vara Especializada do Meio Ambiente e de Questões Agrárias (Vemaqa). E se
depender do apoio do juiz de Direito Adalberto Carim Antônio, a parceria deve
durar por muito tempo. “O Poder Judiciário fica orgulhoso de participar em algo
que enriquece a todos nós, que é sentir esse legado que os nossos indígenas nos
deixaram”, destacou o titular da Vemaqa.
Mulheres Indígenas
A programação seguiu por todo o dia e entrou pela
noite. O público também pôde conferir um pouco da origem da Associação das
Mulheres Indígenas do Rio Negro (Amarn), que foi criada em 1987, com o objetivo
de valorizar as indígenas, incentivar a formação profissional das associadas,
estimular e garantir a venda do artesanato.
| Mulheres da Associação Amarn fizeram um histórico de luta da entidade |
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